quinta-feira, 7 de abril de 2011

“Não tenho medo da morte e sim da desonra”

A frase que escolhi para título desse artigo foi ouvida por milhões de brasileiros nesses últimos dias. Frase direta, desafiadora, pronunciada durante uma entrevista concedida por um homem de quase 80 anos, que enfrentou por anos a fio uma corajosa batalha contra o câncer. Mesmo com a aparência abatida de alguém que já havia passado por mais de dez cirurgias, o autor da frase a pronunciava com uma voz grave, firme, como quem quisesse dizer algo além do significado daquelas palavras. Queria dizer e disse, afinal, o nosso ex-vice-presidente José Alencar, um cidadão brasileiro autêntico, inteiro, transparente, cuja história de vida serve de exemplo para todos, principalmente para nós políticos, que colocamos por livre e espontânea vontade nossos nomes a serviço da causa pública.
 José Alencar Gomes da Silva, décimo primeiro filho de um comerciante e de uma dona-de-casa, nasceu em Itamuri, município de Muriaé, Zona da Mata mineira.  O primeiro emprego como vendedor em uma loja de tecidos aos quatorze anos foi apenas o início da trajetória de um dos mais bem sucedidos empresários da indústria têxtil do país. Quando ingressou na política em 1994, concorrendo ao governo de Minas Gerais pelo PMDB, o empresário de sucesso José Alencar sentiu o sabor derrota, obtendo pouco mais de 10% dos votos válidos, ocupando o terceiro lugar na preferência dos eleitores.
Sempre determinado e confiante de que poderia contribuir com a política brasileira assim como sempre contribuiu com o desenvolvimento econômico do país, José Alencar candidatou-se a uma vaga no Senado Federal em 1998, sendo eleito com  quase 3 milhões de votos. Em 2002, quando Luiz Inácio Lula da Silva entrou mais uma vez na disputa pela cadeira presidencial, já calejado de derrotas anteriores, foi buscar no ponderado José Alencar o vice ideal para quebrar a desconfiança que boa  parte dos brasileiros ainda tinha com o “quase eterno”  representante dos trabalhadores.  Naquela época, já filiado ao PL que havia feito aliança com o PT, José Alencar aceitou o desafio e foi o ponto de equilíbrio, tornando-se peça fundamental na expressiva vitória de Lula.
Mas se a política brasileira tem o costume de colocar seus vices numa incômoda posição muito bem definida por João Gomes, vice-prefeito de Anápolis, que sempre diz que o vice se equilibra numa tênue linha entre a discrição e a intromissão, José Alencar foi um verdadeiro equilibrista durante o governo Lula. Discreto sem ser omisso e participativo sem ser intrometido, o mineirinho Alencar marcou sua posição como uma espécie de irmão mais velho do presidente, chegando a criticar abertamente a política de juros quando foi preciso, entre outros “puxões de orelha”.
Em 2006, mesmo enfrentando problemas de saúde, José Alencar não fugiu ao desafio de integrar mais uma vez a chapa de Lula. Vitorioso, o nosso vice se via cada vez mais acuado pelo câncer, intercalando seu precioso tempo entre as atribuições políticas que lhe cabiam e a UTI de um hospital. O câncer obrigou de forma impiedosa os médicos a submeterem José Alencar a treze cirurgias, todas elas encaradas com a mesma coragem e serenidade. E assim, o empresário bem sucedido, o político discreto e o cidadão exemplar se uniam, juntando forças para enfrentar uma batalha monstruosa. Batalha que para alguns casos, a medicina ainda não dispõe de ferramentas suficientes para vencê-la. Batalha que só mesmo pessoas de fé, coragem e determinação conseguem enfrentar. E, assim, fez nosso ex-vice-presidente José Alencar, deixando um legado como cidadão, empresário e homem público. Legado que nos chega através de sua história, de atitudes, de iniciativas, exemplos ou frases como essa: “Não tenho medo da morte e sim da desonra.”

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